Ney Matogrosso: “Eu desejava a plateia como ela me desejava. Era recíproco. ”
Homem com H conquista plataforma dedicada ao cinema e conversa exclusiva com Ney Matogrosso sobre drogas, ditadura, desejo e muito mais

A cinebiografia que mostra a trajetória do vocalista do Secos & Molhados continua a conquistar público mundo afora. Depois que mais de 620 mil pessoas viram Homem com H, filme que estreou no cinema em 1 de maio, nas telonas do Brasil, foi a vez da Netflix levar a cinebiografia de Ney Matogrosso para o streaming apenas um mês e meio depois.
E não deu outra: a produção ficou vários dias entre a mais vistas da plataforma. Pelas redes sociais percebemos que a maioria do público se encantou com o que viu. Recentemente, a Letterboxd, que é dedicada aos fãs de cinema, apontou que Homem com H foi o segundo filme mais bem avaliado pela comunidade desta plataforma, no primeiro semestre de 2025.
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Motivos para isso, não faltam. Afinal, Ney está nu. Mas quando foi que ele se escondeu ou ao que sente e pensa, hein? O cantor sempre lutou pelo direito de ser o que era e é, tanto na vida artística quanto na esfera particular. E fez isso sem levantar bandeiras. Como ele mesmo já disse: “A bandeira sou eu”.
Houve críticas às cenas mais fortes do filme dirigidos por Esmir Filho. Sim, elas existem. Mas não nos esqueçamos que se trata da história de Ney Matogrosso, um artista que nunca admitiu ser tolhido, seja no palco ou fora da dele. O direito à livre expressão como artista e homem faz parte da história desse ídolo que seguiu livremente seus desejos e intuições, lutando contra toda e qualquer tentativa de enquadrá-lo. E isso desde os anos 70, em plena ditadura militar.
O ator Jesuíta Barbosa, além de excelente intérprete deve ser médium de gente viva também. Só isso para explicar a forma como ele “encarnou” Ney nos trejeitos, olhares, altivez e sensualidade nos shows e fora deles. Rômulo Braga, que pode ser visto também em DNA do Crime, na Netflix, dá vida ao pai do cantor, Antônio, militar com quem o artista teve uma relação muito difícil. E já adianto: dá raiva dele muitas vezes. Hermila Guedes interpreta a mãe do ídolo, Dona Beita, hoje com 103 anos, e com quem ele sempre foi muito ligado.
Além de cenas do filme, outro presente neste vídeo: o áudio de uma entrevista que Ney me concedeu em agosto de 2001, após uma coletiva. A conversa foi registrada ainda em fita cassete e digitalizada há pouco tempo. O mundo era diferente 24 anos atrás. Então, desculpem algum ruído no áudio.
Ney parece não ter mudado. Aliás, tem situações que ele conta na entrevista que são mostradas no filme. E mais: ele fala da relação com as drogas, o desejo despertado no público, a repressão na época da ditadura, sua relação com Deus. Fui uma das privilegiadas a vê-lo no show que apresentou, em 2024, em São Paulo. Acreditem: esse ídolo, que completou 84 anos no dia 1 de agosto, continua a hipnotizar o público com sua a voz, invejável vitalidade e aquela famosa e inimitável sedução no palco. Ouça entrevista exclusiva, logo abaixo, concedida em 2001, horas antes dele estrear seu novo show, Batuque, nome do CD no qual ele interpreta clássicos da música brasileira que foram sucesso nas décadas de 30 a 50 do século passado. Sim, por que esse ídolo que sempre esteve na vanguarda, usa seu talento também para lembrar o público da nossa riqueza musical. Viva Ney!

